segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Relato de parto da Emma - parte 2



O parto 


Não leu a primeira parte? Ta aqui: Relato de parto da Emma - parte 1

Afe! Voltamos, né? Cheia de frustração, triste, cansada e com dor! Chegamos em casa, tomei o spasfon, não tomei o doliprane porque não tinha e fui direto pra cama. O marido trouxe um chocolate quente e eu tentei dormir. A cada 10 minutos (imagino) eu acordava com a dor da contração. Muitas vezes chamava o marido, que vinha me ajudar, segurar minha mão e me guiar na respiração. Ele tentava ver um filme e comer, uma ou duas vezes chegou depois que a contração terminou. Logo ele veio dormir também e eu acordava ele a cada contração. Ele perguntou se eu ia deixar ele dormir ou se devia ficar acordado comigo e passar a noite em claro. Resolvi ir tomar um banho bem quente! Já deviam ser umas 3 da manhã.

Não sei quanto tempo fiquei debaixo do chuveiro, uma meia hora, talvez uma hora? Mas o cansaço me vencia e eu tentava deitar naquele espaço pequeno pra descansar entre as contrações. Resolvi que era hora de tentar dormir. Deitei no sofá da sala pra deixar o marido dormir. Apaguei no sofá! Mas acordava num pulo a cada 5/10 minutos! Ficava em posição de quatro, fazendo movimentos circulares com a pélvis e contando até oito a cada movimento. Contava até oito bem devagar, era o tempo que levava pra passar cada contração. Muita dor, muito cansaço e contrações cada vez menos espaçadas.

Às 6 da manhã tomei mais um comprimido, não que isso adiantasse alguma coisa, mas tinha esperança. Olhei a hora que a farmácia abria (8 da manhã). Comecei a chamar pelo marido. Queria que ele acordasse pra ir lá comprar o doliprane pra mim. Aqui na França, não existe isso de farmácia 24 horas. A soluçõ pra conseguir o remédio seria ir até a polícia, descobrir qual a (única) farmácia de plantão, ir até lá, tocar a campainha e ser atendido sem entrar, você diz o que quer e ele te traz. Por isso, preferimos esperar. A cada contração eu chamava por ele, aumentando a voz, de acordo com a dor, até que às 7 ele acordou e veio até mim. Expliquei que passei a noite em claro, que a dor não passava, que não aguentava mais, que ele tinha que ir comprar o remédio! Tinha esperança de que tomando os dois a dor ia, pelo menos, diminuir. Ele perguntou se podia tomar banho, tomar um café (já que só abria às 8) e saiu de casa às 7:45.

Eu voltei pra debaixo da água quente. Sempre contando até oito, fazendo movimentos circulares e entoando meu mantra pessoal: “estamos nisso juntas, filha! Só mais um pouquinho, Emma! Só mais essa contração, meu amor! Logo, logo isso acaba, logo logo isso passa!”.

E o marido chegou com o tal remédio pra dor. Eu tomei e às 9 disse que tínhamos que voltar pro hospital. A dor estava insuportável e nada que eu fizesse, nada que eu tomasse ajudava a passar! Ele disse que achava melhor esperar, que íamos chegar lá e ter que voltar de novo, que não tinha nada que eles poderiam fazer por mim.

Ele conta que como a enfermeira disse que era um falso trabalho, somado a experiência com a Chloé (foram 2 dias de contração), ele achava que ainda tínhamos horas pela frente! Ele queria dar uma enrolada, ganhar tempo, pras contrações ficarem mais fortes, pra eu ter dilatação e chegar no hospital já mais perto da hora do nascimento. Especialmente porque não queria me ver frustrada, indo pro hospital e tendo que voltar pra casa de novo!

Na minha cabeça, eu iria pro hospital implorar por ajuda, se fosse preciso! Eu já não aguentava mais! Estava indo pronta pra fazer o que fosse pra conseguir que me dessem alguma coisa, qualquer coisa pra fazer passar essa dor! Nem que pra isso eu tivesse que obrigar eles a tirar essa menina de dentro de mim por cesariana!

Era muita dor e eu disse pro marido que isso não era normal, que a gente tinha que ir pro hospital! Saimos de casa umas 9:30. No carro, duas contrações. Quase chegando no hospital o marido diz: “Parece que o carro deu uma diminuida no ritmo das contrações, quer que eu de mais uma voltinha?”. Eu, que tinha acabado de passar por uma, olhei escandalizada pra ele: “Não! Me leva pro hospital!!”.

Chegamos às 9:45 por lá (só sabemos os horários porque o marido mandava mensagens atualizando a família). Como era de dia, entramos pela porta da frente do hospital. Eu parei duas vezes, me apoiei em uma cadeira e fiz meus movimentos circulares, marido segurando minha mão e me ajudando a respirar, agachado na minha frente, todo mundo olhando eu passar pelas contrações.

É muito difícil fazer respirações longas com muita dor. Eu só queria chorar, a respiração vinha rápida, eu já estava no meu limite! Subimos até o andar da maternidade, Marido conversou com a secretária, que disse que a enfermeira estava atendendo alguém e já vinha. Ela buscou uma cadeira pra mim, que eu usei pra colocar a bolsa e apoiar as mãos durante as contrações e logo a enfermeira chegou e me levou pra sala de exames. Eu nem disse nada, meu marido é que conversou rapidamente com ela, que disse que estava vendo minha dor e que ia fazer o exame o mais rápido possível pra eu poder ir pra sala de parto. Já instalada na cadeira, mais uma contração, ela esperou passar e pediu pra me examinar. Você está com 7, 8cm de dilatação, vai querer a peridural? O marido respondeu por mim, dizendo que não. Eu disse que queria sim!

Já não aguentava mais esse sofrimento! Não conseguia me imaginar passando por isso por mais algumas horas, precisava me recuperar! Eu meio que chorava, choramingava pra ser mais exata, um pouco exagerada, pra dizer a verdade. Me permiti tudo isso, pois fui determinada a “resolver” essa dor e se me fizesse de forte, com pouca dilatação, achava que não iam me dar nada.

Rapidamente ela me colocou numa cadeira de rodas e uma colega me levou pra sala de anestesia. O marido não entrou, pois esse momento não pode ter ninguém na sala, além da equipe. Todos se apresentaram (anestesista, enfermeira obstetra e auxiliar de enfermagem). Tiveram que colocar uma perfusão na minha mão, grudaram uns adesivos pra acompanhar meus batimentos (eu acho), começaram a analisar minhas costas, a anestesista começou a limpar e eu senti vontade de empurrar. Muita vontade de empurrar.

Eu estava sentada na cama, pernas cruzadas. A enfermeira obstetra me deitou de lado, disse que minha filha ia nascer. Eu falei que estava doendo muito, que queria a anestesia. Já não tinha mais noção de nada, só queria seguir com o plano inicial. Sabe quando algo ruim, fora do controle acontece? Ai você traça um plano pra que as coisas voltem ao rumo certo e só o fato de ter um plano, a ideia de estar no controle, meio que te acalma pra enfrentar o caos? Então, era um pouco isso. Eu só queria seguir com o plano, como se isso trouxesse uma certa estabilidade. Maaassss... “não da tempo, sua filha está nascendo”. Eu empurrei pela primeira vez, gritei, urrei.

O marido disse que me ouviu, na outra ponta do corredor e começou a vir na direção da sala. Ele ficou preocupado, queria saber o que estava acontecendo. Encontrou a auxiliar de enfermagem no meio do caminho. Ela tinha ido buscar ele: “sua filha vai nascer”. Eles correram pra sala de parto.

Enquanto isso, a enfermeira perguntou se eu estava confortável. Me sentei de novo e comecei a tirar tudo. Ela meio que cobriu de volta e eu disse que não queria. Queria tirar a perfusão da mão. Ela disse que não agora não tinha como (mas eu não estava ligada em nada, só a agulha já estava na minha mão). Ela desconectou o monitor dos adesivos, me deixou tirar o pijama do hospital. Me ajudou a me livrar de tudo que me incomodava (quase tudo, a perfusão ficou).

Meu marido chegou enquanto isso. Abracei ele, de joelhos na cama, meio inclinada de quatro. Colocaram uma espécie de bacia (? não vi, só senti) embaixo de mim. Empurrei novamente, gritei novamente. A bolsa estourou, senti muita água saindo de dentro de mim. O marido, a enfermeira, a auxiliar, todos diziam que estava ótimo, que eu estava indo muito bem! Me davam incentivo, palavras de apoio. Tiraram a bacia debaixo de mim.

A enfermeira me dizia pra empurrar com o bumbum, como se fosse fazer coco mesmo. Eu, abraçada no marido, pensei que era desnecessário dizer isso pra mim, que estava ali, no mais animalesco dos instintos, que tudo ia dar certo, que minha filha ia nascer logo e bem. E ao mesmo tempo, pensei o quão importante era dizer isso naquele momento, se não especificamente pra mim, porque ali, naquele momento, eu era gata de rua parindo, mas pra todas as outras mães, pra meu eu passado, no meu primeiro parto, pra todas aquelas que estão racionalizando esse momento. Eu sorri de canto de boca, mas acho que ela não viu. Fiz que sim com a cabeça, ainda totalmente abraçada ao marido, de costas pra ela.

E logo veio mais uma vontade de empurrar. Mais um grito, mais uma força. E ela simplesmente escorregou pra fora de mim, pras mãos da enfermeira. Sua filha nasceu. Colocaram ela entre as minhas pernas, o rostinho entre meus joelhos. Eu e marido olhando para ela. Elas limpando minha filha ali, entre minhas pernas. Tentaram me deitar, eu resisti, disse que ainda não. Pouco depois me apoiaram de novo e me deitaram, colocaram ela em cima de mim. Me avisaram que iam cortar o cordão, eu perguntei se podia esperar. Ela disse ok. Ficamos ali, nós duas nos olhando, o mundo não existia mais, o tempo parou...

O cordão parou de bater, posso cortar agora? Pode sim. Ela perguntou se o marido queria cortar, ele disse que sim. Ela falou como e o que fazer e ele cortou.

Não lembro se antes ou depois de cortar o cordão (acho que logo depois), mas chegou o momento de empurrar a placenta. Lembro que ela ainda estava em cima de mim. O marido se ofereceu pra ficar com ela no colo, mas eu não quis. Estava em uma sintonia ímpar com minha filha, ninguém ia desgrudar ela de mim, nem mesmo o papai. Empurrei a placenta, elas me examinaram, verificaram se tinha saido toda. Estou com um pouco de dúvida, ela disse, vou examinar de novo, vai ser incomodo, ok? Ok. Estava em outro mundo! Completamente sedada/invadida por tudo que tinha acabado de acontecer!

Levaram ela pra fazer seus exames. Papai foi com ela, eu fiquei olhando da cama. Me tiraram a perfusão, papai fez pele a pele com ela. Depois colocaram ela de volta em cima de mim. Toda cheia de coberta por cima dela, ela peladinha em cima de mim. Mamou, mas não muito. A equipe de anestesia entrou, me deram parabéns, todos sairam depois, a enfermeira disse que voltava mais tarde pra me examinar de novo, ver se tava tudo bem.

E ficamos lá, os três, se conhecendo, se descobrindo...





Comentários
2 Comentários

2 comentários:

  1. Tão emocionante que não sei se choro sofrendo junto ou de emoção por sentir cada segundo da chegada da Emma. Parabéns aos papais guerreiros! Na próxima filha melhor se hospedar no hotel que fica ao lado do hospital hehehe. Já transbordo de amor pela pequena Emma!

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    1. Heheheeheh tem razão! O próximo é se preparar pra não ser parto domiciliar rs

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