terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Relato de parto, parte III



O nascimento


Foram muitas horas acordada durante o (pré)trabalho de parto. Tanto tempo que tive dividir o relato. As partes anteriores (sim, no plural rs) se encontram aqui: relato departo, parte I e aqui: relato de parto, parte II.

Acho que todos sabem que eu não pretendia tomar a peridural, mas depois de 46 horas acordada, depois de muita contração e pouca dilatação, me rendi! Marido, chama a enfermeira! Ele chamou, ela chegou, saiu pra preparar a outra sala, chamar a médica... e lá fui eu pra sala de parto sozinha (marido não pode acompanhar a anestesia em si), mal enrolada no meu lençol, morrendo de medo da temida peridural. Antes da injeção colocaram uma agulha com soro (?) na minha mão. Devo dizer que isso doeu mais que a peridural. Pintaram minhas costas de vermelho, pediram pra eu deixar as costas curvas, pediram de novo, porque eu não deveria estar fazendo isso direito, colocaram um anestésico local e depois a peridural. Para isso disseram que eu não poderia de jeito nenhum me mexer. Tinha que enfrentar as contrações paradinha. (Ain, vontade de chorar lembrando). Eu pedi, meio em desespero (me sentia uma criança desamparada) pra segurar a mão da estagiária. Nossa, que os deuses abençoem essa menina! Sério mesmo! Ela foi de uma empatia, compaixão, carinho... Nem sei que palavra utilizar pra expressar! Mas ela estava lá para mim. Segurou minha mão, conversou comigo e me ajudou a atravessar isso da melhor forma possível. Ainda bem que ela estava lá, porque eu precisava realmente de alguém disponível para mim e a enfermeira e a médica estavam ocupadas com os procedimentos necessários. Ela também era minha tradutora, pois eu não entendia nada do que a anestesista falava (tinha um sotaque meio russo, sei lá). Perguntaram como eu me sentia, estava meio tonta. Era efeito da anestesia. Me deitaram na cama e o marido pôde entrar. Ele perguntou como eu estava (tonta), se tinha doido (só a mão que ainda incomodava) e como eu estava (ainda com contração, mais sentia menos dor). Ficamos uns 5 minutos juntos, conversando e eu fui relaxando, descansando. Ele me cobriu e falou pra eu dormir, enquanto segurava minha mão.  

Depois da peridural
 

Acordei umas duas horas depois, com contrações doloridas de novo. Marido estava dormindo no chão (tadinho, também estava cansado). Mas assim que eu acordei, chamei por ele e acordou na mesma hora. Falei que estava sentindo dor e ele chamou a enfermeira. Ela perguntou se estava como antes da anestesia, eu respondi que não tinha certeza... contração, contração... Sim, dói tanto quanto antes. E agora eu não podia nem me mexer, andar, mudar de posição. Faz alguma coisa, moça, por favor!! (Vontade de chorar de novo, lembrando disso). Falei que não queria mais estar grávida (rs). Marido falou que agora era tarde demais. A enfermeira chamou a anestesista que conferiu a peridural e disse que estava entupida/dobrada, sei lá. Resumindo, eu estava sem anestesia. Ela arrumou a situação e colocou mais uma dose. A enfermeira então rompeu a bolsa, já eram 6h da manhã.

Essa é uma sensação muito estranha. Muito líquido saindo de dentro de mim. Água, sangue, sei lá, mas eram litros e litros saindo. Eu queria zero intervenção durante o meu parto, mas a partir do momento que pedi a peridural sabia que outros procedimentos médicos poderiam ocorrer. Por isso não reclamei e deixei fazerem. Perguntamos a enfermeira quanto ainda ia demorar (doía e eu tinha que ficar naquela posição que em nada ajudava). 5cm de dilatação, ritmo de 1cm por hora... Ela deve nascer lá pelas 11h da manhã, concluímos.

Já estava muito cansada, 47 horas acordada (quer dizer, tinha tirado aquele cochilinho de duas horas que ajudaram muito). Marido falou pra eu tentar dormir e descansar mais um pouco. Eu não conseguia, pois ainda sentia muita dor. Falei com a enfermeira, que disse pra espera um pouco pra anestesia pegar. Esperei e a dor não passava. Pedi, implorei pra ela aumentar a dose e ela disse que não podia, pra esperar a anestesia pegar. Continuei reclamando e ela foi verificar quanto de dilatação. Ai ela tomou um susto e pediu pra estagiária chamar a auxiliar, Sapinha estava nascendo! Foi uma pequena correria para todos se prepararem e se posicionarem. Marido ficou em cima da minha cabeça, pois o lugar anterior dele, do meu lado esquerdo, foi tomado pela auxiliar (que deve ter sido apresentada, mas não lembro, ela chegou nessa hora, só para ajudar a enfermeira, sem nenhum um sorrisinho ou palavra direcionada a mim). Do meu lado direito, a estagiária abençoada. No meu pé a enfermeira. Enquanto todos se posicionavam ela falou pra ainda não empurrar, mas foi super rápido e então ela disse pra empurrar quando sentisse uma contração.

Era muita dor e achava difícil identificar o que era contração, o que era bebê nascendo. Quando achava que era hora perguntava se eu podia empurrar. Ela perguntava pra auxiliar se eu estava tendo contração. A auxiliar confirmava. Ela dizia que podia empurrar. A gente ficou nesse sistema algumas vezes (não sei quantas). A cada contração/empurrada a enfermeira dizia pra empurrar mais e mais forte. Eu tentava, mas estava muito cansada, queria que deixassem em paz só um pouquinho (rs), pra eu descansar antes de empurrar. Pedi pra não estar grávida, disse que não estava preparada pra ter o parto nessa posição, que não tinha treinado (rs), que não tinha a força necessária, que era incapaz. Tudo isso entre as contrações. Durante as contrações eu empurrava, mas não muito bem.

Muito desse meu sentimento de incapacidade vinha pelo que a enfermeira dizia, ou pela forma que ela dizia, querendo mais e mais forte. Eu empurrava no máximo e achava que se aquilo não era suficiente, não sabia como ou o que fazer. O marido e a estagiária diziam que eu estava indo super bem, que estava tudo correndo bem, que eu conseguia e estava conseguindo dar a luz a minha menina. A enfermeira também uma hora foi bem seca e perguntou porque eu tava achando que não estava caminhando bem. Foi ótimo, porque foi diferente do carinho que estava recebendo da estagiária e marido e por ser diferente foi como um choque que me fez pensar e explicar que era pelo que ela estava dizendo. Ela disse que nunca falou nada disso e que o parto decorria bem, sim, que a bebê estava ali já. Perguntei se era a cabeça dela que eu sentia passando. Ela disse que sim, perguntou se eu queria sentir (não), se eu queria que eles colocassem um espelho pra eu ver (não). Eu realmente só precisava saber que ela estava ali. Isso me deu muito força!

Eu levantava o quadril enquanto empurrava, não sei porque. Em um certo momento ela disse pra não fazer isso, mas continuei fazendo como eu podia/sentia. Em um certo momento ouvi ela falando pra ir acordar o médico, mas não sei bem quando, é possível que tenha sido antes da possibilidade de sentir a cabecinha dela. Eu lembro dos fatos, mas a temporalidade foi meio perdida. Mas quando ouvi ela dizendo pra chamar o médico eu disse pra mim mesma: Não! Ninguém vai tirar minha filha, nós duas vamos fazer isso sem ninguém puxando ela pra fora! Nada de fórceps ou ventosa (e sabia que médico significava isso). Foi um raciocínio super complexo, mas que aconteceu em segundos. Eu me centrei e falei pra mim mesma que ia fazer isso direito. A vontade que eu sentia era a mesma, exatamente a mesma de querer ir ao banheiro pra fazer cocô enquanto constipada. A imagem não é muito bonita, mas é bem isso mesmo. Eu pensei nas aulas de preparação, e pensei que se tava com vontade de fazer cocô, ia empurrar como se estivesse no banheiro, sem censura. E empurrei mesmo. A enfermeira falou pra esperar algumas vezes (duas vezes, eu acho) a contração. Mas eu estava completamente segura do que queria (e principalmente não queria - médico) e sabia que quando eu tava afim de empurrar, eu tinha que empurrar e pronto. Me impus, não avisava/perguntava mais se podia empurrar. Eu simplesmente empurrava quando queria. Acho que a enfermeira percebeu que agora ia, parou de se comunicar comigo e se concentrou em receber Sapinha. Empurrava e gritava como nos filmes (alguém perguntou isso pro marido quando nos visitaram e ele disse foi assim). Foram dois ou três empurrões e ela nasceu. Diz o marido que ela chorou. Eu não lembro.

O nascimento

A enfermeira disse que seriam dois ou três pontos (não lembro quando foi isso exatamente, como disse, lembro dos fatos, das falas, mas não da ordem que aconteceram), mas na hora de fazer os pontos mesmo ela viu que não precisava. Ela também comentou (rindo/sorrindo) que acordaram o médico a toa, eu ri. O clima era outro na sala de parto, era leve, sentimento de dever cumprido (e parto bem sucedido) compartilhado entre todos. Cortaram o cordão. Colocaram Sapinha sobre mim. Disseram que agora tinha que empurrar a placenta. "Com ela em cima de mim?? Não, não! Dá ela pro pai." O marido ficou meio bobo (rs), não sabia o que fazer. Falaram pra ele tirar a camisa. Ele tirou e ia colocar de volta o negócio (aquela espécie de jaleco ao contrário) que estava por cima da blusa (rs), daí disseram que ele tinha que ficar com o torso nu pro pele a pele. Foi um momento lindo, ele amou ter a filha deitada sobre ele, mas pra ser sincera eu não lembro muito, não fiquei muito atenta neles. Estava "in the zone" (rs) super concentrada pra expulsar a placenta. A médica falou que tinha que fazer isso logo, que não podia esperar muito tempo, se não ela teria que intervir e puxar. Eu lembrava que isso era meio mito, tinha lido sobre isso, mas não tinha lido o suficiente pra argumentar direito e estava muito cansada pra isso. Então me preocupei em empurrar de novo e direito e rapidinho a placenta estava fora. Ela checou pra ver se estava tudo ok e a placenta estava inteirinha! Nada ficou lá dentro.

Enquanto isso o marido acompanhava os procedimentos com a sapinha, ali na sala mesmo. Pesaram, mediram e não sei mais o que fizeram. Perguntaram o nome dela: Chloé. O marido a vestiu, as roupas imensas! Perguntei que horas eram, elas responderam que eram sete e pouco (não lembro), mas que Sapinha tinha nascido as 6:51. Era o que eu queria saber de verdade. Colocaram ela de volta em cima de mim, ela procurou o peito e mamou. Não sei nem se saiu leite (colostro). Eu estava bem emocionada. O marido também. Ela era pequenininha, linda, perfeita. 

Amamentando pela primeira vez
Comentários
1 Comentários

Um comentário:

  1. Aí meu Deus que LINDO!!!!!!! A gente emociona tudo de novo de ler, fica feliz, tensa, e muito orgulhosa de mamãe e papai!!!!!! E agora, 3 meses depois, babando diariamente a "Sapinha" que não para de crescer, que tem as bochechas mais lindas e rosadas do universo, e que ilumina cada dia mais minha vida!

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